segunda-feira, 10 de maio de 2010
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segunda-feira, 24 de agosto de 2009
Traduzir é trair? II
Em um dos primeiros posts do blog escrevi sobre esse velho trocadilho italiano traduttore-traditore e tentei expor a seguinte idéia: tudo bem que o tradutor seja considerado um traidor, mas sem tradução o mundo não seria o mesmo. Nossa, que poético! Mas é verdade se você conseguir imaginar algumas situações: como seria uma convenção da ONU sem as cabines dos intérpretes? Como seria termos que aprender dezenas de línguas para podermos ler a literatura universal? Como seria uma transação comercial internacional sem a intervenção de um intérprete? Realmente é difícil imaginar o mundo sem a profissão de tradutor, mas é muito fácil recriminar o profissional que cometeu um deslize, sem enxergar os benefícios dos inúmeros acertos cometidos. É melhor o tradutor passar despercebido a ser notado por uma falha. Eis nossa triste realidade.
Mas voltando ao nosso tema: o da traição. Eu tenho lido que, durante muito tempo, a tradução era vista como uma tentativa de cópia fiel de uma obra, sendo que em outro idioma. Essa última condição já contraria o que entendemos por fidelidade e não creio que os tradutores antigos tenham sido tão ingênuos em pensar que eram fiéis ao original, apenas alguns teóricos são infantis a tal ponto. A obra literária, o contrato, a letra de música, isso é, o texto, ganha novos os leitores para somar-se àqueles que o leram em sua primeira língua e ganha novas formas paralelas à original, transforma-se em esposo infiel do autor pelas mãos de um manipulador, de um traidor. Porém, essa manipulação não tem a intenção de afastamento, ela deseja aproximar-se de outros olhos, de outras pessoas que querem lê-lo, tê-lo em mãos para gozar do prazer de poder usufruí-lo, pois, depois de escrito, o texto não pertence mais ao autor e não cabe a ele ter ciúmes de algo que não lhe pertence.
Hoje, essa noção de que “ninguém é de ninguém” está cada vez mais clara. O tradutor não se preocupa tanto com a fidelidade, não por desprezar o texto original e querer melhorá-lo, mas por saber que essa é uma tarefa impossível. Ao compararmos várias traduções, perceberemos as escolhas e as diferentes ênfases que fazem da versão uma obra do tradutor. Sempre que lia um livro, tinha a preocupação de saber seu título original, em que língua foi escrita e de qual língua foi traduzida, agora ganhei mais fios brancos no cabelo, procuro sempre saber quem foi o traidor.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Mais música!
Ho perso anche me
Perchè senza te
Mi manca un perchè
Io sono una fiamma
E luce non dò
Io sono una barca
E mare non ho
Perchè sensa te
Rinnego l'amore
Uccido la vita
E canto il dolore
Tristezza che va
In cerca di me
Ho paura di vivere senza te
Ah, che bei giorni
I ricordi mi fanno sentire meno sola
Ho tanta voglia
Tanta voglia di averti con me
Le mie mani han bisogno di te
Ma sono triste
Non ha niente da darmi la vita com'e
La vita esiste
Ma ho paura di vivere senza te.
sábado, 15 de agosto de 2009
El porqué de la traducción
Por que a tradução é importante? O que faz do trabalho de um tradutor útil? Poderia relembrar a frase de Saramago que citei em um dos primeiros tópicos do blog: "Os autores escrevem as suas respectivas literaturas nacionais, mas a literatura mundial é obra dos tradutores", mas não o farei. É verdade que a tradução é muito mais vasta que a tradução literária, mas acredito que o seu principal papel seja transmitir cultura. Isso não significa que ela transmita exatamente o que o autor quis dizer, com as exatas palavras, mas que ela possibilita que conheçamos e tenhamos acesso a um novo mundo, a uma nova maneira de vê-lo. Claro que a literatura não representa a única ponte de acesso a um pensamento de outro povo. Uma música, um filme, um contrato, qualquer documento produzido no exterior apresenta traços da cultura de quem o escreveu. O desafio do tradutor é transpor essa barreira e trazer para um novo mundo, um novo texto. Sim, o tradutor traz ao mundo um novo texto, mas vou deixar isso para a próxima oportunidade.
Andrea Zipman, em seu texto que tem o mesmo título desta postagem, defende a idéia de que o bom tradutor ama o que faz e o mau tradutor busca apenas recompensas financeiras e profissionais. É claro que o amor é importante em qualquer área da vida, inclusive na profissional, mas apenas ele não é suficiente para concretizar uma boa tradução, é preciso muito estudo e dedicação para adquirir os conhecimentos necessários para realizar um bom trabalho. Pode acontecer que haja tradutores competentes que não amem traduzir, que não tenham amor pelo ofício, mas que tenham muita facilidade e muito conhecimento para se sair incrivelmente bem em sua produção. Eu até concordo que seja difícil existirem bons tradutores que não amem seu trabalho, mas vocês devem concordar comigo que nem todos aqueles que amam o que fazem dão conta do recado. Essa é uma questão interessante: até que ponto o amor é um fator essencial para se fazer uma boa tradução?
Vou deixar que vocês reflitam um pouco e vou dormir, pois já está muito tarde e estou trabalhando desde cedo. Na próxima postagem vamos falar um pouco sobre aquele velho trocadilho Tradutore-Traditore. Abraços a todos e agradeço a visita.
segunda-feira, 10 de agosto de 2009
Línguas antigas I
Quero agradecer a todos que estão lendo o blog, fico muito feliz com as visitas e com os comentários. Hoje gostaria de falar sobre algo que me intriga bastante: o estudo de línguas antigas. Dentre elas, já arrisquei a estudar um pouco o latim, o sânscrito, o pali e bem pouco mesmo o hebraico. No hebraico, me concentrei mais nas traduções bíblicas e foi incrível encontrar diferentes versões da mesma passagem. Como sou vegetariano e sempre acreditei que Jesus, símbolo de amor e compaixão, poderia preconizar o vegetarianismo, busquei possíveis erros de tradução da Bíblia. É verdade que são muitos os equívocos e que existem muitas traduções e explicações para cada uma delas, então não me alongarei mais no tema, mas que sirva de exemplo um site que encontrei que discute um pouco o assunto. Bem, quanto ao pali, essa foi a língua que mais estudei, tive, inclusive, um caderno exclusivo para o idioma. Adorei traduzir diretamente do cânone algumas palavras do Buda, me atrevi a decorar algumas passagens e a recitá-las, fiquei bastante entusiasmado com os estudos e me arrependi por não ter comprado um dicionário que encontrei em um sebo em San Francisco, quando ainda nem imaginava estudar o pali. Devia saber que me interessaria.
Todas as traduções de línguas antigas exigem muitas pesquisas e um trabalho imenso, muito maior do que em uma tradução de um idioma moderno. Creio que não seja difícil entender o motivo. Além das mudanças naturais ocorridas na época em que esses idiomas eram falados, há ainda a interferência de descobertas históricas, que podem mudar o rumo de uma tradução “post mortem”. Já que toquei no latim, devo confessar que o mais impressionante nessas pesquisas lingüísticas é a recuperação do som do idioma, é tanto que o próprio latim pode ser pronunciado da maneira clássica ou eclesiástica. A pronúncia do sânscrito permaneceu porque ele ainda é utilizado em rituais religiosos na Índia e seu sistema de escrita vive no híndi. Muitos idiomas se perderam no tempo e alguns correm risco de extinção, é incrível que alguns ainda perdurem por tanto tempo e mantenham a maioria das suas características originais.
Admiro muito aqueles que se dedicam a essas línguas, mesmo sabendo que o único benefício será o aumento da sua cultura. Gostaria de ter essa coragem e dedicar minha vida ao estudo dos idiomas, mas são tantas as coisas a serem descobertas e tão pouco o tempo para descobrí-las. Quando era criança adorava física, química, matemática, astronomia, me trancava no quarto com livros ao som de música clássica e sob inspiração da seguinte frase colada com durex em minha escrivaninha:
“Jamais considere seus estudos como uma obrigação, mas como uma oportunidade invejável para aprender a conhecer a influência libertadora da beleza do reino do espírito, para seu próprio prazer pessoal e para proveito da comunidade à qual seu futuro trabalho pertencer.” (Albert Einstein)
É... Às vezes sinto falta daquele espírito que tinha, daquela poesia que vivia em minha vida. Continuo mantendo meu gosto pelos estudos, mas preciso recuperar aquele prazer enorme que havia em descobrir...